07/02/2014

A Sbórnia de luto

Belíssimo texto de Fabrício Carpinejar:

"Às cinco da manhã, Nico largou ao chão sua gravata, seu colete, seu par de sapatos de bico fino, seu bigode da Sbórnia, suas canções desesperadas de amor. E as rosas brotaram de sua pele branca e cansada.
Enrolem o Maestro Pletskaya com as cortinas do Theatro São Pedro, coloquem algodão em seus ouvidos, ele é todo feito de cristal: ele é todo cristalino.

Morreu Nico. Morreu o tango de novo. Morreu a própria tragédia. Sua voz era de um lobo que já tinha sido homem. Hoje só podemos cantar uivando.

Não terá caixão para levá-lo. Não terá caixão para fechá-lo. Ele não é um morto, mas um piano parado...


... Amarrem-me em qualquer lugar que não fale português e desperte saudade. Prendam-me na cama, anestesiem meu sangue - estou tão acostumando a enxergá-lo vivo que fui junto.

Só deixem minha cabeça livre. Para mexer a cabeça, para dançar Copérnico com os olhos e esperar que ele volte.

Ele sempre volta"


 

Um comentário:

Sem Noção disse...

Sabe quanto tu vai assistindo e do nada escorre aquela lágrima? Eu precisava chorar, mas não por esse motivo: perda. Pra mim é uma grande perda não só para Porto Alegre, mas um pouquinho no coração de cada um. Tangos & Tragédias sempre estiveram de um jeito ou de outro nos corações dos portoalegrenses. O texto no blog é muito bonito. mesmo sendo do Carpinejar - a quem não consigo instigar admiração.

 
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