Belíssimo texto de Fabrício Carpinejar:
"Às cinco da manhã, Nico largou ao chão sua gravata, seu colete, seu par
de sapatos de bico fino, seu bigode da Sbórnia, suas canções
desesperadas de amor. E as rosas brotaram de sua pele branca e cansada.
Enrolem o Maestro Pletskaya com as cortinas do Theatro São Pedro,
coloquem algodão em seus ouvidos, ele é todo feito de cristal: ele é
todo cristalino.
Morreu Nico. Morreu o tango de novo. Morreu a
própria tragédia. Sua voz era de um lobo que já tinha sido homem. Hoje
só podemos cantar uivando.
Não terá caixão para levá-lo. Não terá caixão para fechá-lo. Ele não é um morto, mas um piano parado...
... Amarrem-me em qualquer lugar que não fale português e desperte saudade.
Prendam-me na cama, anestesiem meu sangue - estou tão acostumando a
enxergá-lo vivo que fui junto.
Só deixem minha cabeça livre. Para mexer a cabeça, para dançar Copérnico com os olhos e esperar que ele volte.
Ele sempre volta"
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Sabe quanto tu vai assistindo e do nada escorre aquela lágrima? Eu precisava chorar, mas não por esse motivo: perda. Pra mim é uma grande perda não só para Porto Alegre, mas um pouquinho no coração de cada um. Tangos & Tragédias sempre estiveram de um jeito ou de outro nos corações dos portoalegrenses. O texto no blog é muito bonito. mesmo sendo do Carpinejar - a quem não consigo instigar admiração.
Postar um comentário